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Prevê-se que as alterações climatéricas afectem todos os aspectos da biodiversidade. No entanto, essas alterações têm de ter em conta o impacto de outras actividades humanas passadas, presentes e futuras, incluindo o aumento das concentrações de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
No entender do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), a temperatura média da superfície terrestre sofrerá uma subida de 1,4ºC para 5,8ºC no final do século XXI. Prevê-se ainda que as zonas terrestres evidenciarão um aquecimento maior que os oceanos e que os territórios localizados em latitudes mais altas aquecerão mais que os localizados nos trópicos. Estima-se que o nível médio das águas do mar aumente de 0,09 para 0,88 metros. Em geral, espera-se um aumento da precipitação nas altas latitudes e nas zonas equatoriais e uma diminuição nas zonas subtropicais.
É igualmente esperado que as alterações climatéricas afectem directamente os organismos individuais, as populações, a distribuição das espécies e a composição e funcionamento dos ecossistemas, quer directamente (devido, por exemplo, a alterações na precipitação e tempestades repentinas, no caso de ecossistemas marinhos e costeiros) quer indirectamente (devido ao impacto das alterações climatéricas na intensidade e na frequência de perturbações como os incêndios). A perda, modificação e fragmentação dos habitats bem como a introdução ou disseminação de espécies não autóctones são factores que afectarão o impacto produzido pelas alterações climatéricas.
Uma projecção realista do estado dos ecossistemas terrestres no futuro deve ter igualmente em conta os padrões de utilização dos solos e da água, os quais virão a afectar em grande medida a capacidade de os organismos responderem às alterações climatéricas recorrendo à migração.
O principal efeito das alterações do clima provocadas pelo Homem é a deslocação dos habitats de muitas espécies para latitudes ou altitudes mais elevadas face à sua habitual localização.
As espécies serão afectadas de formas diferentes pelas alterações do clima: haverá diferentes vagas de migração através das paisagens naturais fragmentadas e os ecossistemas actualmente dominados por espécies de vida longa (caso de algumas árvores) levarão algum tempo a mostrar sinais de mudança. Prevê-se, portanto, que a composição da maioria dos ecossistemas actuais se modifique, uma vez que é muito improvável que as espécies que compõem um mesmo ecossistema se desloquem todas de uma só vez.
Prevê-se que, por volta do ano 2080, em termos globais, cerca de 20% das zonas húmidas costeiras poderão desaparecer devido à subida do nível médio das águas do mar.
O impacto que a subida do nível do mar terá sobre os ecossistemas costeiros variará a nível regional, dependendo da erosão causada pelos mares e dos depósitos de sedimentos que ocorram em terra. É possível que alguns mangais das regiões costeiras insulares baixas, onde as cargas de sedimentação são altas e os processos de erosão são escassos, não sejam particularmente vulneráveis ao aumento do nível médio das águas do mar.
O risco de extinção de algumas espécies já vulneráveis aumentará.
As espécies com necessidades muito particulares no que toca aos factores abióticos/bióticos do habitat e/ou que constituem pequenas populações são normalmente as mais vulneráveis e passíveis de se extinguir. Entre estas figuram as espécies montanhosas endémicas e as populações isoladas em ilhas (aves como o kiwi neozelandês), em penínsulas (espécies vegetais que constituem o Reino Floral do Cabo) ou em áreas costeiras (mangais, pântanos costeiros e recifes de coral). Pelo contrário, as espécies que apresentam uma distribuição extensiva e regular, com mecanismos de dispersão de longo alcance e populações mais ou menos ubíquas correm um menor risco de extinção.
Não existem muitas provas que sugiram que as alterações climatéricas possam diminuir a perda de espécies, mas existem provas suficientes que demonstram que as alterações climatéricas podem acelerar este processo. Apesar de se especular sobre o facto de em algumas regiões se poder vir a observar um aumento da biodiversidade local (normalmente como consequência da introdução de espécies), as consequências a longo prazo são muito difíceis de predizer.
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Bibliografia: Intergovernmental Panel on Climate Change - Climate Change and Biodiversity; IPCC Reports; WHO & UNEP, 2001.
2007-05-24
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