O Árctico, sinónimo de gelo e frio, foi outrora uma zona com clima subtropical e temperaturas mediterrânicas. Estes foram os primeiros resultados da expedição ACEX (Arctic Coring Expedition), que rumou ao Árctico com o objectivo de perfurar o fundo do mar e recolher amostras de sedimentos, e que regressa hoje à Noruega. Isso aconteceu num período de aquecimento global, há cerca de 55 milhões de anos.
Andy Kingdon, dos serviços geológicos britânicos, disse ao PÚBLICO que durante as seis semanas da expedição, os investigadores de oito países conseguiram recolher amostras de sedimentos oceânicos a 430 metros abaixo do fundo do mar.
"A história inicial da bacia do Árctico será reavaliada com base nos dados científicos recolhidos na expedição", disse Jan Backman, da Universidade de Estocolmo, citado num comunicado do Consórcio Europeu para a Investigação Científica por Perfuração (Ecord, na sigla inglesa) - que financiou a expedição -, constituído por 13 países europeus, incluindo Portugal.
A primeira análise das amostras, realizada ainda a bordo do "Vidar Viking" - um quebra-gelo sueco munido com perfurador -, revelaram indícios do que terá sido uma zona marítima subtropical e pouco profunda em pequenos fósseis de plantas e animais marítimos já extintos.
Estes vestígios reportam-se a um breve período que ocorreu há cerca de 55 milhões de anos, caracterizado por um clima ameno que deu origem ao chamado efeito de estufa. Na época, tratou-se de um fenómeno natural que causou a libertação de dióxido de carbono em grandes quantidades para a atmosfera e para o oceano.
"Estas condições levaram à extinção em massa de organismos que habitavam no fundo do mar", salientou Michael Kaminski, do University College de Londres (Reino Unido). "Fazendo um percurso no tempo, pudemos ver que muitas espécies vieram a desaparecer."
Os cientistas conseguiram identificar o período de tempo a partir de sedimentos de um género de alga que só aparece em regiões subtropicais. Estes fósseis indicam que o oceano Árctico já apresentou temperaturas na casa dos 20 graus Celsius, similares ao mar Mediterrâneo, em comparação com as temperaturas geladas de hoje.
"O Árctico foi outrora muito mais quente do que se pensava", frisou Andy Kingdon. "Já se sabia que todo o planeta foi durante este período muito mais quente do que é hoje, mas o que é surpreendente é que as temperaturas eram também muito elevadas mais a norte."
As amostras irão ser analisadas com mais pormenor em laboratório, na Universidade de Bremen, Alemanha.
Andy Kingdon lembrou ainda as difíceis condições que a equipa teve de ultrapassar: placas de gelo gigantescas, temperaturas muito baixas e nevoeiro cerrado. "O pior foi aguentar o 'Vidar Viking' numa posição estável para o processo de perfuração, devido à instabilidade provocada pelo gelo muito espesso. Se o quebra-gelo se movesse mais do que alguns metros, o perfurador podia partir-se e comprometer a expedição."
(Setembro de 2004) - Netprof
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