2007-09-20

EXTINÇÃO DOS DINOSSÁURIOS

Os Dinossáurios, no decurso da sua longa "caminhada " de mais de 170 milhões de anos sobre a Terra "assistiram" à abertura do Atlântico, à formaçao e destruição de grandiosas cadeias de montanhas, "viveram" períodos de excepcional actividade vulcânica e "viram" aparecer as primeiras flores e as primeiras aves, tendo sobrevivido sempre, adaptados aos mais variados ambientes. Tendo dominado como "Senhores do Planeta" durante tão vasto intervalo de tempo, extinguiram-se da face da Terra, de forma radical e abrupta, há cerca de 66 Ma, num curtíssimo lapso de tempo, que marca a passagem do Mesozóico ao Cenozóico, isto é, no topo do Cretácico.

Acompanharam-nos nesta catástrofe biológica, à escala global, outros importantes grupos de répteis tais como os Plesiossáurios, os Ictiossáurios, os Pterossáurios, os Mosassáurios e alguns Crocodilianos. Igual destino sofreram 70 a 75% das famílias de animais marinhos, o fitoplâncton, algumas plantas superiores, etc..


Embora menos espectacular, a extinção maciça de tão vasto leque dos representantes vivos de então constitui um problema igualmente importante, embora menos explorado.

A extinção dos Dinossáurios não pode, pois, ser separada deste outro acontecimento bem mais amplo, não havendo ainda consenso entre os especialistas, quanto às causas desta crise biológica, que antecedeu os tempos modernos. As muitíssimas "teorias" elaboradas para explicar este fenómeno que, aliás, se tem repetido por diversas vezes ao longo da história do nosso Planeta, assumem-se como catastrofistas, umas, e gradualistas, outras.

Entre elas, umas procuram explicações endógenas e outras advogam causas exógenas ou extraterrestres. Como causas extraterrestres, há-as imaginadas interiores ao Sistema Solar (queda de um corpo meteórico, ou bólide, de grandes proporções) ou fora dele, como seja, por exemplo,o obscurecimento da luz solar por interposição de poeiras cósmicas intragalácticas, entre o Sol e a Terra, ou as resultantes da explosão de uma Supernova, suficientemente próxima do Sol.

Nos últimos dez anos tem-se assistido a um redobrado interesse pelo problema desta grande extinção, certamente com abusos (graves e desaconselháveis) da via especulativa, mas, apesar de tudo, com o mérito de ter feito congregar em torno dele um numeroso e prestigiado grupo de investigadores entre Geólogos, Paleontólogos, Biólogos, Físicos, Químicos, Astrónomos, Astrofísicos, Astroquímicos, etc..

Entre as causas tradicionalmente aceites, muito do gosto dos Paleontólogos clássicos, referem-se competição biológica, episódios generalizados de intensa actividade vulcânica ou, ainda, variações graduais ou bruscas de parâmetros físicos ou químicos, tais como teores de oxigénio ou de dióxido de carbono na atmosfera, temperatura ambiente, nível geral das águas dos mares, polaridade magnética, etc.

As hipóteses de explicação desta extinção em massa (que também vitimou os Dinossáurios) baseadas em causas extraterrestres, têm vindo a ganhar terreno na última década, em particular a partir do momento em que a equipa pluridisciplinar de investigadores da Universidade de Berkeley (Califórnia) chefiada pelo físico L. ALVAREZ (prémio Nobel) lançou a hipótese de ter ocorrido, há uns 66 Ma, uma colisão, com a Terra, de um corpo meteórico (asteróide ou cometa), estimado em cerca de 10 km de diâmetro e a uma velocidade da ordem dos 20 km/s ou mais. Do impacte teria resultado a pulverização e vaporização não só do corpo caído, como de grande quantidade das rochas crustais, no caso de a colisão ter ocorrido em Terra, e estes mesmos materiais acrescidos de vapor de água, nas mesmas grandiosas proporções, no caso do impacte ter ocorrido no oceano. Os números propostos pela equipa de ALVAREZ baseiam-se na estimativa da quantidade de materiais admitidos como extraterrestres (o irídio é de todos o mais divulgado) dispersos à volta do Globo (5x1011 t) na sequência do choque.

Acumulados numa delgada camada argilosa, na ordem dos poucos centímetros, rica de elementos raros na crosta terrestre e comuns em certos meteoritos, admite-se que tais materiais dispersos sejam a causa da bem conhecida e designada por anomalia de irídio, embora este comportamento anormal se verifique noutros elementos como paládio, platina, ásmio, rádio, ruténio, arsénio, etc.. Estas anomalias estão situadas exactamente na fronteira entre as duas Eras e são já conhecidos mais de 75 locais à volta do Globo onde ela foi posta em evidência, tanto em séries sedimentares em terra como em sondagens nos sedimentos jacentes nos fundos oceânicos. O lapso de tempo que lhe corresponde foi estimado, segundo os autores, entre algumas dezerlas e vários milhares de anos, durante o qual teria ocorrido a catástrofe. Tais números, apesar de díspares, têm em comum o serem particularmente pequenos relativamente aos tempos geológicos compatíveis com alterações desta dimensão, segundo os modelos clássicos.

O obscurecimento temporário produzido pelas poeiras em suspensão na atmosfera, incluindo, muito provavelmente, finas partículas de carvão em resultado da carbonização das florestas, teria produzido gravíssimas perturbações na actividade fotossintética do fitoplâncton (com ciclos de vida muito curtos) que se repercutiriam ao longo de toda a cadeia alimentar. Acumulativamente, ou não, outros efeitos da mesma causa podem ter ocorrido, tais como mudanças radicais do clima global de tipo " inverno nuclear", para uns, ou situação de secura abrasadora, para outros. Os gases libertados, alguns tóxicos, outros produzindo chuvas ácidas, podem, igualmente, ter contribuído para dar à crise biológica a dimensão catastrófica e global que lhe conhecemos.

Do impacte, avaliado numa magnitude equivalente à explosão de 6x1014 t (seiscentos milhões de megatoneladas) de TNT, teria resultado uma cratera com cerca de 200 km de diâmetro. Crateras de colisão meteórica conhecidas em terras emersas, com estas dimensões, ou são muito antigas ou demasiado jovens. A queda no mar apresenta-se mais provável (70% das quedas têm lugar no mar) e teria produzido menores quantidades de poeiras crustais, lançando na atmosfera quantidades de águas do mar na ordem dos 10 a 100 vezes a massa do bólide.

Um local admitido como possível para esta colisão catastrófica, segundo o próprio ALVAREZ, é o correspondente à curiosa, e ainda não completamente estudada, estrutura arredondada, situada ao largo de Peniche, no fundo oceânico, a cerca de 5 km de profundidade, e a uns 300 km a WNW de Lisboa , conhecida por Montanha Submarina de Tore. A sua forma elíptica, com 120 por 80 km, alongada na direcção meridiana, é interpretada como o resultado de deformação viscoelástica da crosta oceânica (A. RIBEIRO, 1989) com consequências ao nível das concepções basilares da tectónica global, que não cabe explicitar no âmbito desta exposiçao.


É certo que este modelo exógeno de explicação da extinção do final do Cretácico não agrada à maioria dos Paleontólogos, alguns de grande prestígio. Porém, embora não desejando tomar posição, devemos acrescentar que, volvidos dez anos sobre a então insólita comunicação da equipa de Berkeley, esta concepção tem ganho terreno sobre todas as outras, mercê de sucessivas achegas dos muitíssimos investigadores que se tém envolvido nesta problemática. Uma exposição pormenorizada mas não exaustiva de quase uma década de polémica em torno deste fascinante problema foi recentemente apresentada (A. GALOPIM DE CARVALHO, 1989).
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In: CARVALHO, A. M. Galopim de (1989) - Dinossáurios. Lisboa:”Naturália”, Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, Colecção "Natura", (Nova Série)14: 133 pp..

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